O Dia da Bandeira é uma data importante para o povo do Haiti. Representa a libertação do país, colônia francesa até 1803. Longe da pátria, haitianos foram às ruas de Encantado celebrar a história e a tradição.
A data é celebrada em 18 de maio, mas como no Brasil neste ano caiu em uma sexta-feira e não é feriado aqui, os imigrantes comemoraram o feito nesse domingo. A programação iniciou com um desfile em frente ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação (STI Alimentação), passaram em frente ao Hospital Beneficente Santa Terezinha e seguiram pela rua Júlio de Castilhos até o Salão Paroquial.
O desfile teve início com o Hino do Haiti. Em posição de sentido os haitianos cantavam junto. Ao longo do caminho palavras de ordem e que representam a importância da data eram propagadas em voz alta, junto com passos de dança que também faz parte das comemorações do Dia da Bandeira.
Aos poucos mais gente foi se juntando para acompanhar o cortejo. Um carro de som tocava músicas típicas do Haiti.
Moradores de Encantado ficaram surpresas com o ato. Em meio aos sorrisos e aplausos, as pessoas tiravam fotos e filmavam para registrar o momento.
“A nossa bandeira é o nosso orgulho e a nossa identidade”, diz o haitiano Jempson Duperval, 27. Ele mora faz quatro anos e meio em Encantado.
Para ele, a maior dificuldade foi se comunicar. “Não foi nada fácil. Não sabia nada do português. Falamos francês, crioulo e inglês. Aos poucos fomos nos familiarizando com o povo brasileiro. Eles abriram as portas para nós e nos aceitaram”, enfatiza.
Após o desfile, a comemoração continuou no Salão Paroquial. Teatro, música, dança, história, comidas típicas como a banana verde frita fizeram parte da festa. Além de haitianos, amigos deles de Encantado também prestigiaram a programação.
Comitê
Estima-se que a cidade tenha 500 haitianos. Para promover e organizar eventos assim e representar essa comunidade de imigrantes, eles criaram um comitê. Ainda em fase de estruturação, o grupo busca manter e valorizar a cultura e os costumes do povo caribenho.
Conforme um dos integrantes, Charles Ferdinot, 29, após a destruição do país devido ao terremoto, muitos precisaram sair do Haiti para buscar trabalho e formas de sobreviver. “Viemos procurar trabalho. Mandamos parte do dinheiro que recebemos para podermos ajudar as nossas famílias que ficaram lá”, comenta.
O haitiano destaca que gosta de Encantado, onde já vive há três anos. Aqui também teve oportunidade de fazer um curso técnico em contabilidade no Instituto Estadual Monsenhor Scalabrini.
A preocupação com os estudos e com adquirir conhecimento é uma constante na vida desse povo que fala diversas línguas. A jovem Megusta Pierre Louis, 26, fala português, francês crioulo, inglês e espanhol. Seu sonho é cursar enfermagem.
Ela está indo para Chapecó com o marido e a filha de um ano, Cristel, nos próximos dias. Segundo ela, lá tem mais oportunidades nessa área.
Sobre a vinda para o Brasil, há três anos, a comida e a temperatura foram os dois aspectos que mais a impactou. “Lá não tem muito frio como aqui”, resume.
Gisele Feraboli: gisele@jornalahora.inf.br