Pensar toda  a cadeia

Opinião

Ney Lazzari

Ney Lazzari

Reitor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

Pensar toda a cadeia

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Pela Univates, estamos intensificando os contatos com o Parque Científico-Tecnológico de Almeria (PITA) e a Universidade de Almeria. Almeria é a capital da província de mesmo nome, localizada na região autônoma da Andaluzia, no sul da Espanha. São quase 200 mil habitantes na capital e 600 mil na província, em uma área de aproximadamente duas vezes a do Vale do Taquari.
 
A província de Almeria é considerada uma das regiões mais áridas do continente europeu e com mais dias de sol. Nos meses de verão (julho e agosto), não chove nada e no mês que mais chove, outubro, a precipitação não passa dos 30 mm. No ano a precipitação fica em torno de 200 mm e as temperaturas permanecem constantes entre 13°C e 25°C. Só para comparação, em Lajeado chove em torno de 1,6 mil mm por ano, ou seja, oito vezes mais.
 
Essa província, até os anos 1980, era considerada a região mais pobre da Espanha. Hoje ela é considerada como uma das que têm a maior renda per capita do país.
 
Toda essa transformação econômica ocorreu com a introdução de modernos processos para a produção de legumes, frutas e verduras. No início do processo, empreendedores holandeses ajudaram na transformação. Produtos como tomate, pimenta, berinjela, feijão, abobrinha, melão, melancia e pepino, e flores, como rosas, crisântemos e cravos, são produzidos na região de Almeria e exportados para toda a União Europeia e para a Inglaterra.
 
A prevalência é de propriedades com menos de três hectares em média, e mais de 25% dos trabalhadores são imigrantes.
 
 
O processo de modernização iniciou buscando o alto desempenho técnico e econômico baseado no uso racional da água, no uso de estufas plásticas (invernaderos) e muita pesquisa e capacitação técnica. É o chamado “mar de plástico”, com mais de 57 mil hectares cobertos por estufas plásticas. Praticamente toda a água vem de poços artesianos, e a terra e o húmus necessários vêm de mais de 150 km de distância e precisam ser trocados a cada três anos.
 
Recentemente tem havido uma transformação generalizada nas técnicas de produção com o controle e o manejo das pragas de forma a possibilitar a produção cada vez mais bio ou eco, sem o uso de pesticidas. O mercado europeu está ávido por esses produtos e paga o preço dessa mudança no processo produtivo. Apenas para comparação: uma dúzia de ovos comuns no Brasil está custando menos de um euro; no supermercado do El Corte Ingles, em Málaga, meia dúzia de ovos bio está por três euros, ou seja, seis vezes mais.
 
Esse setor econômico de Almeria fatura em torno de 2 bilhões de euros por ano, e mais de 70% desse valor vêm de exportações. Para ter uma ideia do quanto é isso, duas grandes cooperativas do Vale do Taquari, somadas, com quase 10 mil famílias, faturam aproximadamente 500 milhões de euros por ano.
 
 
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Além desse faturamento direto, o que impressiona é que outros 2 bilhões de euros são gerados localmente na cadeia produtiva com a produção de plásticos, equipamentos, adubos, fertilizantes, sementes, comercialização, transporte, armazenamento, etc. São constantes os estudos e pesquisas sobre novas sementes, novos padrões de controle de pragas e doenças, novas formas de responder à demanda dos diferentes mercados e de como gerar uma rede de comercialização em nível nacional e internacional para garantir a colocação da produção: “como levar um pé de alface orgânico e crocante para a ceia de Natal de um consumidor alemão ou inglês, que está com um metro de neve na frente da porta de sua casa, a quase 2,5 mil km de Almeria?”
 
Isso não ocorre por acaso: a região decidiu que produziria hortaliças, mas também decidiu que teria toda a cadeia produtiva no local. Para isso, constituiu uma fundação em 2001 chamada Tecnova, dedicada somente à pesquisa na área. Mais de 120 empresas e cooperativas do setor, juntamente com outras entidades e organizações, mantêm e gerenciam essa instituição de pesquisa.
 
Foi a Tecnova que induziu o surgimento do PITA, com o objetivo principal de fomentar o avanço da pesquisa na área da produção de hortaliças.
 
No Vale do Taquari temos uma história exitosa, por exemplo, na produção de produtos de origem animal (ovos, leite, suíno, frango), entretanto nunca conseguimos estruturar toda a cadeia, apenas parte dela. Também nos falta uma tradição mais efetiva para a pesquisa e a inovação nos processos de produção, bem como na dos novos padrões de consumo que estão surgindo para toda a cadeia.
 
A Univates está entabulando conversas com a Tecnova, o PITA e a Universidade de Almeria para estabelecer convênios de pesquisa e de intercâmbio de alunos e professores.

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