Lagoa histórica ganha vida nova

Olarias

Lagoa histórica ganha vida nova

Símbolo do bairro Olarias, a lagoa da Praça Clara Maria Schorr recebeu nova iluminação e um chafariz. Lugar é marcado pela história de imigrantes que vieram ao município

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Lagoa histórica ganha vida nova

A tradicional lagoa que virou símbolo do bairro sempre foi apreciada pelas crianças da família Schorr, especialmente nas noites de lua cheia. Era meados dos anos 70 quando Ines Sonia Walker acampava ao redor da lagoa com os primos quando eles visitavam a casa dos avós que moravam ali. Depois de pertencer a mais de três gerações da família, faz cerca de 15 dias que a lagoa recebeu nova iluminação e um chafariz.
Grande parte do bairro Olarias foi colonizada por famílias alemãs que vieram ao Brasil em busca de melhor qualidade de vida. Para o casal Nicolau e Gertrudes Schorr, não foi diferente. Eles compraram cerca de 50 hectares do terreno onde hoje fica a Escola Nova Viena, uma Igreja e o Parque Clara Maria Schorr – nome de uma das filhas do casal. Ali construíram uma casa em enxaimel e criaram 13 filhos.
Mais tarde, uma das filhas, a Clara Maria, casou-se com José Petry e comprou o terreno dos pais. Construiu uma nova casa que ainda pertence a descendentes da família e que circunda o lago e cuidou do espaço onde criou seus 10 filhos. Um deles é a mãe de Inês, Lucia Walker, que casou- se com Otto Walker, também moradores do bairro.
Foi nestas terras que Inês cresceu com os irmãos. E foi no lago que aprendeu a nadar. “A mãe não gostava que a gente nadasse no lago. Ela até tinha uma varinha de marmelo, mas a gente adorava passar o verão ali”, lembra. As roupas de casa também eram lavadas naquelas águas e, nas tardes de domingo, as crianças sentavam ao redor da água que é uma das vertentes do Arroio Engenho para pescar.
“Pescávamos só para comer, e os peixes pequenos a gente devolvia para o lago. A vó era bem rigorosa quanto a isso”, conta uma das irmãs de Inês, Beatriz Maria Sost, 60. Morando no bairro desde que nasceu, a Bea, como é chamada, já foi presidente da Associação de Moradores e sempre cuidou da lagoa. Em casa, ela guarda fotos de quando o lugar ainda pertencia a sua família.
No casamento dos pais, a festa foi ali e as fotos feitas em frente à lagoa. Os relatos são de que também foi a família delas que fez a abertura da rua Paulo Emílio Thiesen, para os colonos poderem chegar à cidade.
Quando tornou-se pública
Anos mais tarde, quando Clara Maria faleceu, as terras foram divididas entre os filhos, que lotearam o lugar. Mas, para isso, tinham que doar parte do terreno. Um tio doou o espaço onde hoje fica a Igreja, outro doou as terras da Escola Nova Viena, e a mãe de Inês e Bea doou, junto com um irmão, a lagoa que aos poucos foi se tornando uma área de lazer frequentada no bairro.
Em 2005, ela começou a ser modificada, tornando-se também menor. A ideia era abrir uma rua ali, mas ao invés disso, foram implantados um caminhódromo e uma pracinha. Um pouco antes da praça ser inaugurada em 4 de dezembro de 2009, os netos de Clara Maria Schorr solicitaram na câmara de vereadores que o espaço tivesse o nome da avó. Assim, uma pedra com esse título foi colocada junto à praça batizada.

Histórias da lagoa

Aos seis anos de idade, Marcio Bennemann, 46, já era morador do bairro Olarias. O pai dele foi um dos fundadores do CTG Galpão de Barro entre os anos 80 e 90. Como não tinha sede, o CTG usava o salão da comunidade de São José Operário que na época tinha uma cancha de concreto onde hoje é o ginásio da Escola Nova Viena. “Às vezes a gente dançava na cancha ou no salão da comunidade que era ao redor da lagoa”, conta Bennemann.
Ele lembra que no dia 1º de maio, quando era comemorada a festa da comunidade de São José Operário, o CTG preparava a Corrida do Tacho. Eram utilizados os tachos de latão que serviam para fazer torresmo. Eles eram colocados na água, alguém entrava neles e remava fazendo a travessia da lagoa. Quem chegasse primeiro a margem oposta era o vencedor. “A gente fazia junto com a festa para ter mais um atrativo, era muito legal”, recorda Bennemann.
Por volta dos anos 90, o morador criou um grupo de jovens que se encontrava ao redor da lagoa. Por meio da Escola Nova Viena, eles criaram um projeto para fazer um caminhódromo, uma pracinha e canchas de areia no lugar. O projeto foi encaminhado para o governo municipal – não se sabe se nos mesmos moldes. Por isso toda a modificação da lagoa em um espaço de lazer já vem de anos e vem se concretizando também com a iluminação e o chafariz.
Bennemann lembra que os amigos se reuniam ali para jogar vôlei ou futebol. “A metade da lagoa era tomada de capim. Quando a bola caía ali no meio, a gente tinha que entrar entre 10 para localizá-la, acabava sendo nossa diversão”.

Natal na lagoa

Outra moradora do bairro, Carmen Schwingel, 66, considera a lagoa um símbolo da bairro Olarias. Nos fins de tarde, os moradores costumam caminhar ou tomar chimarrão por ali. Logo que a praça foi inaugurada, Carmen lembra das comemorações de Natal que eram feitas ao redor da lagoa. “Havia um culto ecumênico, as pessoas sentavam em frente à Igreja, a comunidade se apresentava e cada criança ganhava um pacotinho de presente”.
Algumas orquestras e grupos musicais também se apresentavam na ocasião e um Papai Noel vinha do meio da lagoa com os presentes. Moradora do bairro faz 38 anos, Carmen ajuda a preservar o espaço. Teve um ano em que mudas de árvores foram plantadas ao redor da lagoa. Para as plantas não morrerem, ela e alguns moradores pegavam água da nascente com uma latinha para irrigar as árvores. Hoje as crianças da Escola Nova Viena desenvolvem um projeto para cuidar do lugar.
 


 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

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