Ciclistas completam prova mais antiga do mundo

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Ciclistas completam prova mais antiga do mundo

Guner Daltoé, Léo Vicente Lorenzini e Rober Quinto Gonzatti completaram o Paris-Brest-Paris em 86h. Próximo objetivo é terminar o 1001 Miglia, em 2020, na Itália

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Ciclistas completam prova mais antiga do mundo
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Dever cumprido. Com esse sentimento, Guner Daltoé, 35, Léo Vicente Lorenzini, 41 e Rober Quinto Gonzatti, 46, retornaram da participação do Paris-Brest-Paris (PBP). Os ciclistas terminaram a prova de 1,2 mil quilômetros em 86h, quatro horas antes do limite máximo.
Durante o percurso, os atletas pedalaram as primeiras 24h sem parar para descansar, alcançando a marca de 440km. Após atingir a quilometragem, pararam por duas horas para descansar. O mesmo se repetiu no dia seguinte. No último dia de evento, o descanso foi menor – 1h30min. As refeições foram feitas durante o trajeto, sempre nos pontos de controle da prova.
Apesar das dificuldades, das dores musculares e nas articulações, em momento algum cogitaram em desistir. “Tínhamos um propósito muito claro e sabíamos o quanto tínhamos treinado e nos dedicado para isso. As dificuldades fazem parte destas provas de longa distância, a questão é como cada ciclista está preparado para enfrentá-las,” destaca Guner Daltoé.
Ele relata que no segundo dia de prova, enfrentaram vento contra por mais de 350km, além da amplitude térmica durante todo o evento. Durante o dia, a temperatura passava dos 30ºC e caindo para 2ºC durante a madrugada.

WhatsApp Image 2019-09-05 at 17.53.12(2)Pontos positivos

Os ciclistas contam que o trajeto da prova passou por estradas secundárias, com baixo tráfego de veículos, por cidades muito pequenas e alguns povoados. Passando por lugares pitorescos, lavouras e montanhas. “Estávamos frequentemente em contato com a natureza e longe da agitação das rodovias”, explica Daltoé.
Outro destaque foi a receptividade dos moradores, que ficavam nas ruas torcendo e vibrando. Daltoé relata que muitos abriram as casas para acolher os ciclistas, fornecer hidratação e alimentação, sem pedir nada em troca. “Essa cultura e a paixão, admiração dos moradores pelo ciclismo foi o que mais me chamou atenção. Esse respeito pelo ciclista também foi visto nos motoristas, que sempre reduziram a velocidade ao se aproximar por um grupo de atletas nos proporcionando mais segurança para pedalarmos.”

Próximos desafios

Com a conclusão do PBP, Daltoé, Lorenzini e Gonzatti tem uma nova meta. Completar o 1001 Miglia da Itália, em 2020. No total serão 1,6 mil quilômetros que devem ser percorridos em 134 horas.

AH – Qual foi o momento mais marcante neste evento?

Léo Vicente Lorenzini: Na largada. Havia milhares de pessoas de diversos países. Se ouvia várias línguas e se via muitas bandeiras tremulando.
Rober Gonzatti: Foram vários que a gente teve nesse PBP. Um deles foi o de se relacionar com várias pessoas, de vários países. Todos com o mesmo objetivo, o de sempre querer completar a prova. Outra coisa que chamou a atenção foi no interior da França. A receptividade da população, a cidade que passamos, o pessoal nos recebendo com aplausos e carinho, mesa com café, chá, refrigerante e bolachas. A própria organização do evento, onde todos tiveram muito respeito e acompanhamento. Precisei de oficina para minha bicicleta e eles me deram auxilio. Outro destaque foi a parceria nossa. Foram várias coisas legais que ficarão marcado por toda minha vida.
Guner Daltoé: Acho que foi no primeiro e no último dia de prova. No primeiro dia, pela energia positiva das pessoas no local da largada, público torcendo e apoiando, aquele mar de ciclistas largando, uma experiência única. O ultimo dia porque enquanto víamos muitos ciclistas iam sendo abatidos pelo sono, cansaço, dores, problemas de saúde, e etc. Nós conseguíamos pouco a pouco driblar os obstáculos e seguir rumo ao objetivo que era a conclusão da prova dentro do tempo.

WhatsApp Image 2019-09-05 at 17.53.11(1)AH – Quais os aprendizados que uma prova longa como o PBP trás para você?

Lorenzini: Principalmente conhecer outra cultura. Fazer amizades com pessoas de outros países, sentir o respeito que a França tem no trânsito. Eles são muito organizado.
Gonzatti: Comecei no ciclismo por uma questão de saúde. Quando coloquei o PBP na minha vida tinha o sonho de conquistar ele. Quando a gente quer alguma coisa. Nunca tinha imaginado participar de uma prova na frança, é um aprendizado que vou levar para a minha vida que tudo que a gente quer, a gente tem que correr atras, tem que buscar, pois ele está no nosso alcance. Se a gente tem vontade, convicção, a gente consegue. Tem que buscar, tem que treinar bastante, e no final isso aconteceu. É um aprendizado que a gente vai compartilhar com todos os amigos.
Daltoé: São vários. Um dos mais relevantes é que o grupo te fortalece. Sempre que algo parecer impossível, tente pedir ajuda ou compartilhar com alguém, certamente será mais fácil. Outro destaque é aprender a planejar e replanejar, quantas vezes for necessário. Não controlamos todas as variáveis, temos que ser flexíveis e saber nos adaptar ao cenário que está posto. Sobreviver com o essencial, nem sempre podemos ter tudo ou carregar tudo o que gostaríamos. Não se apegar a coisas materiais e sim as pessoas, eles podem te salvar.

AH – O que muda na tua vida depois ter concluído essa prova?

Lorenzini: Que quando a gente sonha, é só colocar um objetivo e se dedicar que se consegue realizar. Nunca imaginava na minha vida que um dia iria pisar na França. Através da bicicleta, consegui e sei que posso ir além.
Gonzatti: É que aprendi que tenho capacidade de ir muito mais longe. Que tenho capacidade de fazer mais. Queremos fazer a 1001 Miglia. É um desafio maior. A gente tem capacidade e condições de fazer, mas a gente tem que se puxar. É um aprendizado muito grande para mim e agora quero mais. Eu posso mais. Só depende de mim.
Daltoé: Em uma prova como essa temos muito tempo para pensar e refletir sobre a nossa vida, nossas atitudes, nosso dia a dia, sobre as pessoas que são importantes para nós, em fim, a cada prova destas volto pra casa fisicamente cansado mas mentalmente renovado e sempre visando o próximo desafio. Se Deus permitir será ano que vem na Itália, onde pretendemos participar do 1001 Miglia.

EZEQUIEL NEITZKE – ezequiel@jornalahora.inf.br

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