A carne que não é fraca

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

A carne que não é fraca

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Admira a intensidade com que a alta no preço da carne de rês vem ocupando a grande imprensa. Crimes como latrocínios e feminicídios caíram para segundo plano. Acidentes graves de trânsito, da mesma forma. Quisera que estas questões ocupassem tão intensamente as discussões públicas da mídia, inclusive dos chamados “especialistas”.
Falando da alta da carne bovina, o primeiro a se dizer é que ela é cíclica e imputável à lei da oferta e da procura.
uando determinado produto é oferecido em quantidade menor do que sua procura, ele se valoriza. É assim com as verduras e hortaliças na entressafra ou em caso de excesso de chuvas, com o feijão em época de estiagem, com o moranguinho, com a abóbora, a cerveja, etc.
Voltando à carne e ao escândalo que provoca na grande imprensa, nos últimos dias circulou vídeo imputando a culpa a Bolsonaro. Temos, então, a idéia do uso político deste fato ocasional? Da mesma forma como tentaram imputar a Lula a culpa pela queda violenta do dólar no seu primeiro mandato. Tão acentuada e duradoura que quebrou com os calçadistas. Empresas dos segmentos metalmecânico, moveleiro e de balas/pirulitos, ou quebraram ou demitiram maciçamente. O motivo, na época? A entrada da China no comércio internacional com a oferta mais barata de produtos industrializados. O Presidente da República nada pode fazer agora, no curto prazo, quanto ao preço da carne de gado, tal qual naquela vez Lula não tinha culpa quanto à crise do dólar.
Precisamos olhar as causas verdadeiras para minimizar sua repetição. Comecemos pela sazonalidade: estamos saindo de uma entressafra em que, naturalmente, a oferta de carne de rês diminui. Poderíamos, ainda, contestar a FARSUL, entidade classista dos pecuaristas, por ter incentivado, por anos, a exportação de boi em pé para o Oriente Médio, ao invés de reclamar políticas de expansão da atividade através do abate dos animais aqui, agregando valor em nosso meio (mão de obra, renda e tributos). Ou, questionar a Secretaria Estadual da Agricultura e Pecuária pela falta de políticas setoriais, inclusive na pecuária de corte. São factíveis através das Câmaras Setoriais – se atuantes, como nos Governos Brito e Tarso. Já o Ministério da Agricultura deveria ter agilizado o credenciamento de maior número de frigoríficos de derivados suínos, para exportação à China. Esta elevou a compra de carne de rês devido à ocorrência, em seu meio, da peste suína, eliminando boa parte do seu rebanho de porcos. Então, nossa carne de rês entra lá como alimento substituto à carne suína. Se tivéssemos mais frigoríficos suínos credenciados e, por conseguinte, mais capacidade de vendas àquele País, o impacto na nossa carne de rês seria menor. Para amenizar uma crise momentânea destas, pode-se, ainda, consumir proteínas substitutas: suínos, frango, peixe, etc.
O lado bom é que este aumento da demanda chinesa traz divisas para o Brasil, beneficiando a todos, e dá um fôlego à pecuária de corte que passou por crises horríveis, sem que alguém se ocupasse delas devidamente. Este momento de queda na oferta de carne, insuficiente às necessidades de consumo, também é bom nos levar à reflexão quanto à tese (nem tão científica) da redução da atividade em prol de um reflorestamento extensivo ou da demarcação indiscriminada de reservas indígenas. Há a comprovação da possibilidade da expansão da atividade econômica – no caso, da produção de carne bovina – respeitando a natureza, inclusive através do aumento da produtividade.
ecomendável cuidar com o uso político dos fatos, sem brasilidade, ou com nosso alinhamento com discursos internacionais que apenas querem nos prejudicar, em benefício de outros países.

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