“Vou continuar pintando na rua até o fim”

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“Vou continuar pintando na rua até o fim”

Responsável pela nova identidade visual do Prédio 1 da Univates, o grafiteiro Eduardo Kobra fala sobre sua trajetória e o debate entre arte comercial e marginal

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“Vou continuar pintando na rua até o fim”

Dois grupos interrompem a entrevista. Querem tirar foto ao lado do artista. Ao fim da conversa, mais de 15 alunos, professores e funcionários estão na porta, esperando sua vez. Depois de 30 anos de carreira, Eduardo Kobra passou a experimentar o assédio do público.

Sua trajetória começou aos 12 anos, pichando muros em São Paulo, passou pelo grafite até se tornar muralista, o que lhe rendeu reconhecimento internacional.

Antes de chegar a Lajeado, passou 40 dias nos Emirados Árabes e pintou o rosto da Irmã Dulce em Salvador. Daqui, segue para Brasília e Estados Unidos.

Embora reconheça que fazer arte comercial é uma necessidade de sobrevivência para artistas que, assim como ele, cresceram na periferia e vivem do seu trabalho, tem restrições, para garantir que sua arte se mantenha autoral.

Entrevista

• Como foi o começo da tua carreira?

Comecei totalmente ilegal, com pichação. Nasci na periferia, no bairro do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. As pessoas não tinham referência de street art, então o pessoal odiava. Eu pichava meu nome nos muros, já era Kobra. Cheguei a ser detido fazendo isso.

• Quantas obras você pintou em 2019?

Eu faço uma de cada vez. Da metade para 2018 para 2019, fui convidado para 40 países diferentes, tudo que é lugar que você puder imaginar. A minha equipe é pequena, eu e mais quatro pessoas, então não é possível fazer todos esses trabalhos. É interessante ter chegado a este ponto, mas é complexo. A parte logística é o mais difícil.

• Qual a importância de manter sua arte na rua?

Eu comecei na rua, minha satisfação como artista é pintar murais enormes, é minha paixão. Só fiz umas três exposições. Não vejo problema, mas minha base é a rua. Vou continuar pintando na rua até o fim.

• Existe um debate entre os grafiteiros entre arte comercial e arte marginal. Como você vê essa discussão?

Não podemos ser hipócritas. Tem várias situações envolvidas na arte urbana. Quando eu comecei, a maioria dos artistas vinham de uma origem carente. Muitos, incluindo eu mesmo, tinham que fazer trabalhos comerciais para manter o trabalho autoral, pagar água, luz, aluguel e comprar sua lata de tinta. Muitos que criticavam a arte comercial de forma radical, quando uma marca grande bateu na porta, o cara foi lá e fez.

Eu aproveito os convites para fazer meu trabalho autoral. Tem dezenas de celebridades que querem que eu pinte mural com a cara deles. Eu não vou fazer isso. Eu tenho um conceito.

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