“Mandaram o Isac embora sem o atendimento que ele precisava”

luto e indignação

“Mandaram o Isac embora sem o atendimento que ele precisava”

Menino de dois anos morreu segunda-feira no Hospital Estrela. Na véspera, paciente foi medicado e liberado. Para família, houve descaso no primeiro atendimento

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“Mandaram o Isac embora sem o atendimento que ele precisava”
Estrela

O depoimento de Adriana Rodrigues da Silva resume o sentimento dos familiares pela morte de seu sobrinho, Isac Natalício da Silva.

“A gente quer saber por que o médico se negou a dar o atendimento completo. É do SUS, é nosso. Era um direito da gente, um direito do Isac. Eles mandaram o Isac embora sem o atendimento que ele precisava. Só descobrimos que ele precisava na hora em que ele partiu”, diz.

O menino de dois anos e meio apresentou febre já no sábado. Era uma febre que baixava e tornava a subir, sem passar dos 38ºC. No domingo à noite, por volta das 19h30, a família levou a criança ao Pronto Socorro do Hospital Estrela.

“O doutor examinou ele com aquele aparelho que põe nas costas e disse que ele estava com quadro de bronquite. Depois olhou a garganta e disse ‘nossa, mãe. A garganta nem está vermelha, está esbranquiçada de tanta infecção. É faringite”, recorda Deise Ferreira da Silva, mãe de Isac.

O médico receitou um antibiótico e um analgésico. A família conta que insistiu que fossem feitos exames de sangue e raio-X e teria ouvido do médico que não era necessário. De acordo com os familiares, o menino já havia sido atendido no mesmo hospital por pneumonia, faz pouco mais de um ano.

O menino voltou para casa foi iniciado o tratamento com os remédios receitados. Na manhã seguinte, acordou sem febre e apresentou uma pequena melhora. No fim da tarde, ele teve uma piora repentina.

Segundo atendimento
“Deise, ele não está bem, vamos levar para o pronto socorro”, gritou o pai Fabiano Rodrigues da Silva.
Cerca de 24h após o primeiro atendimento, a família voltou apressada ao pronto socorro. Logo de chegada, a criança foi entubada. “Ele já não fazia mais nada, tinha dificuldade de respirar, só gemia”, recorda a mãe.

Durante o atendimento, Deise percebeu que o menino estava sangrando pelo nariz e avisou às enfermeiras. Ela conta que foi informada de que o nariz teria sido ferido na colocação dos aparelhos respiratórios. Inconformada, insistiu que era muito sangue, que poderia ser outra coisa.

A equipe solicitou que ela deixasse da sala de atendimento. Foi a última vez que Deise viu o filho caçula vivo.
Enquanto os familiares aguardavam do lado de fora, foram informados de que o menino havia dado entrada em um quadro de diabete bastante agravado e pneumonia. Isac teve uma parada cardíaca e foi necessário aplicar adrenalina.

Hemorragia pulmonar
No atestado de óbito, as causas indicada para a morte é choque séptico, septicemia e hemorragia pulmonar.
Septicemia é uma infecção sistêmica. Ocorre quando há a infecção se espalha e as bactérias atingem a corrente sanguínea. Quando o caso avança para uma falência de órgãos, o paciente entra em choque séptico.
A família aguarda para hoje a liberação do boletim do atendimento médico de Isac.

Suposto descaso
Para os familiares, Isac foi vítima de descaso. “Se estivessem feito o raio-X da forma que nós pedimos, ele poderia ter ficado baixado no hospital. Se tivesse realmente um quadro de diabete, os exames iam apontar”, diz a mãe.
O corpo de Isac Natalícia da Silva foi enterrado no cemitério municipal, em Novo Paraíso.

No momento da despedida, Adriana fez uma última promessa ao sobrinho. “Bebê, a tia vai provar para todo mundo que foi um descaso o que aconteceu contigo. Pode ficar bem sossegado que a tia não vai descansar.”

O bebezão da família
Os parentes moram em casa próximas, no bairro Imigrantes, em Estrela, e era comum Isac ficar na casa de Adriana aos fins de semana. A tia se refere a Isac sempre como Bebezão.

O menino é descrito pelos familiares como uma criança ativa e carinhosa. “Além de ser ativo, ele ativava os outros aqui da volta”, recorda um primo. “Se você ficava só conversando com ele, ele já queria abraçar, beijar, dar carinho”, complementa Adriana.

Quando nasceu, ficou alguns dias na UTI, porque teria aspirado o líquido do parto. De acordo com a família, após este episódio, a saúde do menino sempre foi normal.

Isac era o filho caçula do casal, que tem ainda uma menina de 10 anos e um rapaz de 15.

Caso semelhante
Quatro anos atrás, a família passou pela perda de um parente. Ismailer Daniel dos Santos, 19 anos, morreu após um enfarte.

Na semana que antecedeu a morte, Ismailer foi atendido quatro vezes no Pronto Socorro do Hospital Estrela. Na semana passada, a morte de Ismailer completou quatro anos.

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