Mudança de perfil: cresce número de partos após os 31 anos

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Mudança de perfil: cresce número de partos após os 31 anos

O número de partos depois dos 31 anos ultrapassou a marca de 40% dos nascimentos em Lajeado nos últimos dois anos. Fatores profissionais e evolução de métodos contraceptivos são apontados como causas para o adiamento da maternidade

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Mudança de perfil: cresce número de partos após os 31 anos
Lajeado

“Quando falei que seria mãe depois dos 40, minhas amigas disseram que eu estava louca e que não sobreviveria ao parto”, conta Lurdes de Fátima Wikowscki, 46. Escondida do marido Juliano Cornelius, 26, ela iniciou um tratamento para fortalecer o útero. Quando tomou o comprimido 28 de uma cartela com 30, enjoos começaram.
Os primeiros três meses foram os mais complicados, relembra Lurdes. Com diabetes gestacional e pressão alta, ficou semanas sem fazer esforço. Uma nutricionista adequou a alimentação diária feita apenas com frutas e poucos talheres de comida.
Em 18 de maio de 2018, Lurdes fez o último exame pré-natal. Do Posto de Saúde do São Cristóvão, foi direto para o Hospital Bruno Born. “A bariga já estava torta e o bebê querendo sair”, destaca Lurdes, que foi dirigindo para a consulta.
Saudável e pesando mais de três quilos, Kauã Júlio nasceu às 18h28min. A “tranquilidade e coragem” de Lurdes foram até elogiadas pelos médicos.
O desejo de Lurdes em ter um filho com 44 anos ocorreu após acidente da filha primogênita, Paloma, em 2010. Ela ficou paraplégica, conversa com dificuldades e vive em uma cadeira de rodas. “Virei mãe novamente para ter alguém que cuidará da Paloma quando não estiver mais aqui”, conclui.

Mães cada vez mais tarde
Mulheres como Lurdes, que optam pela gravidez tardia, se tornam cada vez mais comuns em Lajeado. Indicadores de Saúde da Vigilância Epidemiológica apontam que o número de mulheres que dão a luz após os 31 anos já superou a marca dos 40% desde 2018. Neste período de dois anos, foram registrados 2.094 nascimentos.
A evolução dos métodos contraceptivos e entrada das mulheres no mercado de trabalho são apontados por especialistas para o adiamento da gravidez. Na década de 60, a faixa etária ideal para ter um filho era 18 a 25 anos. Atualmente, passou para até 30 anos.
Entre os riscos da gravidez tardia, especialistas citam o aumento da infertilidade. Chega a 15% para mulheres com 35 anos. No caso do público feminino, a taxa sobe para 32%.

Gravidez precoce
O percentual de nascimentos entre mães menores de idade chegou a 3,5% em 2019. Foram 37 casos de gravidez precoce registrados pela Vigilância Epidemiológica. Dentre eles, seis eram de adolescentes com 14 anos.
Com sete casos, o Santo Antônio foi o bairro com maior número de adolescentes dando à luz antes de completarem 18 anos. A lista segue com os bairros Jardim do Cedro e Moinhos D’Água (4), Olarias e Centro (3).
Preocupação da coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Juliana Demarchi, é com a quantidade de casos na faixa etária entre 14 a 15 anos. Para ela, os dados sinalizam a importância de novas ações de avaliação e educação de saúde.
Divulgado pelo A Hora em junho de 2019, um dos casos de gravidez precoce mais emblemáticos foi de uma jovem de 14 anos e um homem de 18 que ganharam trigêmeas. A situação sensibilizou a comunidade regional, que iniciou campanhas para as recém-nascidas. Atualmente, a guarda das “três Marias”, como as jovens ficaram conhecidas, está com a avó paterna.

Partos acima dos 31 anos

Entrevista

“A mulher vive essa dúvida entre a maternidade e a carreira”

Professor da Univates e especialista em reprodução humana com atuação no Hospital Bruno Born, Paulo Peres Fagundes ressalta as mudanças culturais na maternidade e os riscos biológicos em uma gravidez tardia.

Do ponto de vista funcional do aparelho reprodutivo feminino, existe uma faixa etária ideal para a gravidez?

Quanto mais cedo melhor, a partir do momento que a mulher está com desenvolvimento completo. Seria dos 18 aos 30. Isso biologicamente. Socialmente, a gravidez cedo pode ser mais difícil. Antigamente as nossas avós engravidavam cedo. Elas saiam de casa casadas para engravidar. Inclusive a bem pouco tempo atrás a mulher com 30 anos que tinha o primeiro filho era considerada primigesta idosa.

Por que a mulher diminui a taxa de fertilidade com o passar da vida?
Pois a mulher vai diminuído a reserva de óvulos dela. Isso aumenta após os 35 anos. A mulher já nasce com os óvulos prontos e eles vão amadurecendo. O homem produz novos espermatozoides a cada 75 dias. Por isso o homem não tem problema para conseguir procriar.
Quais fatores estão por trás dessa porcentagem de partos mais tardios?
São fatores sociais. A liberdade que a pilula anticoncepcional trouxe para a mulher. As nossas avós não tinham esses métodos. Elas tinham que engravidar. A ida da mulher para o mercado de trabalho também faz com que elas adiem o projeto de gravidez.

Quais os riscos ou malefícios em ter filhos após os 35 anos?
Os riscos são o aumento nos casos de prematuridade, diabetes na gravidez e de pré-eclâmpsia com a pressão arterial elevada. Também aumenta em 18% a taxa do abordo.

 

Na sua avaliação, existe benefícios dessa mudança cultural?
Biologicamente não teria vantagem mas existe o benefício no planejamento da vida. Hoje a mulher vive essa dúvida entre a maternidade e a carreira. A mulher que fica só em casa cuidando dos filhos, como era nossas avós, pode se sentir inferior por não estar ganhando o próprio dinheiro. Por outro lado, as mulheres com trabalho e ativas podem ter problemas se adiarem muito o projeto de filho. Acho que a solução é buscar o meio termo. Pesar risco e benefício e se planejar, se possível, a ter filhos antes dos 35 anos.

NASCIMENTOS BAIRROS LAJEADO 2019-01

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