“Não é porque a pessoa errou que não pode ter uma chance”

Abre Aspas

“Não é porque a pessoa errou que não pode ter uma chance”

O engenheiro Janrie Carlos Tiecher nunca havia entrado na cadeia. Em 2019, aceitou o desafio de dar um curso de assentamento de cerâmica para detentos do presídio de Lajeado. A iniciativa é do governo municipal junto ao Senai. As 80 horas-aula formaram 14 azulejistas e mudaram a visão do professor sobre o cárcere. Hoje, quando chegar ao presídio, é reconhecido e cumprimentado por detentos e agentes penitenciários

Por

Atualizado sábado,
08 de Fevereiro de 2020 às 09:10

“Não é porque a pessoa errou que não pode ter uma chance”
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

• Por que você decidiu dar aulas no presídio?

Eu queria quebrar a barreira, ver como é esta realidade. Acredito que todo mundo tem que ter uma segunda chance –  segunda, terceira ou quarta, não importa, é um ser humano. Nós só reclamamos da nossa sociedade, mas temos que ver como é lá dentro. Quanto mais nós pudermos ajudar estas pessoas, mais retorno vamos ter para a sociedade. O que adianta estar lá dentro se não pode fazer nada? Vamos lá tentar melhorar as condições e, quando eles saírem daquele local, voltarão pessoas melhores, com uma profissão. A partir daí, cada um age com sua próprias condições.

• Já havia entrado em um presídio?

Nunca.

• Qual foi a primeira impressão?

Levei um baque total. Eu não imaginava como seria. Levei um susto no início, por não estar acostumado com aquele tipo de ambiente. Mas a gente tem que abrir a mente e o coração e não ter julgamento. Na verdade, tem muito o lado humano lá dentro. As pessoas querem melhorar e voltar para a sociedade. Tem os que não querem, óbvio. Em toda a sociedade tem pessoas boas e ruins.

• O que mudou na sua forma de ver os detentos?

Mudou a compreensão da vida e das pessoas. O preconceito faz parte da sociedade. O que a gente pode fazer é humanizar. É necessário prender? É. Mas não é porque a pessoa errou que ela não pode ter uma chance. Temos que pensar também nos meios que levaram ela até ali. Não adianta só prender. E depois? Vai deixar uma pessoa solta, que não tem uma profissão, não tem o que fazer e ela vai voltar para o meio do crime. Temos que tentar profissionalizar essa pessoa para que possa ter seu ganho de forma lícita.

• O que muda dos presos para outros alunos?

Como é enclausurado, é tudo muito extremo. Aquele curso é uma liberdade para eles. Eles dão muito valor, levam muito a sério. Isso me deixou feliz e, ao mesmo tempo, nervoso, porque era uma nova responsabilidade, e eu tinha que arcar com aquilo. A realização é que eu pude passar o conhecimento e eles aprenderam o máximo possível. Se vão usar ou não, não sabemos. Mas a turma estava muito engajada em aprender.

• Passou por alguma situação desconfortável ou se sentiu ameaçado?

Nunca. Pelo contrário, foram muito solícitos e educados.

• Em algum momento se sentiu recompensado?

Quando começamos as aulas práticas, eles disseram que estavam muito felizes. Eles não tinha noção de que teriam essa aptidão. Eu só tenho que agradecer. Não sei explicar com palavras. É um prazer poder passar as informações que você tem e ajudar os outros a crescerem. Não tem valor monetário que pague.

Acompanhe
nossas
redes sociais