“Sempre fui o primeiro a chegar na empresa”

Entrevista: Germano Tomasi

“Sempre fui o primeiro a chegar na empresa”

Com dificuldade para encontrar emprego, Germano Tomasi comprou um restaurante e se tornou empreendedor. Hoje, ele administra a Tomasi Logística, uma das principais transportadoras do RS.

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Atualizado terça-feira,
18 de Fevereiro de 2020 às 17:18

“Sempre fui o primeiro a chegar na empresa”
Germano Tomasi dirige a Tomasi logistica ao lado da esposa Edi e dos filhos Diego e Rodrigo
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Motorista de caminhão desde os 18 anos, Germano Tomasi começou a trajetória como empreendedor por necessidade. Ele ficou desempregado quando a transportadora para a qual trabalhava vendeu os caminhões e demitiu os funcionários.

Com dificuldade para se recolocar no mercado, Tomasi decidiu comprar um restaurante às margens da BR-386. O negócio deu certo e resultou em capital suficiente para adquirir os primeiros caminhões, que deram origem à Tomasi Logística.

Hoje, a empresa tem 11 unidades em sete estados brasileiros, 150 caminhões e uma média de dez a 15 empregos gerados por mês. Também é referência em tecnologia, com aplicativo próprio e sistema de rastreamento em tempo real da carga e dos veículos.


Quando iniciou sua trajetória como empreendedor?

Germano Tomasi – Aconteceu por acaso. Meu sonho de infância era ser jogador de futebol, mas nunca consegui jogar profissionalmente. Eu trabalhava de motorista em uma empresa que tinha cinco caminhões. A empresa vendeu os caminhões, demitiu os funcionários e estava muito difícil de arrumar um emprego. Eu tinha 35 anos e nunca havia me passado pela cabeça ser empreendedor, mas precisava encontrar alguma coisa. Eu só sabia dirigir caminhão e conhecia como funcionavam os restaurantes de beira da estrada. Então, veio a oportunidade de comprar um restaurante na entrada de Bom Retiro do Sul.

Como era esse estabelecimento?

Tomasi – Era um lugar de pouco movimento, onde tinha ocorrido um assalto com morte. O movimento estava a zero e dono queria vender. Eu tive muitas ideias, mas sempre tive medo de empreender. Quando surgiu essa oportunidade, sabia que daria certo. Meus amigos diziam que eu quebraria. Mas tive apoio total da minha esposa Edi.

Nós deixamos a casa aqui de Lajeado e fomos para Bom Retiro do Sul. Saímos de um lugar onde tínhamos tudo para algo incerto. Começamos a trabalhar e tivemos um movimento extraordinário. Trabalhávamos dia e noite. No início foi difícil, mas o apoio da família foi fundamental e o negócio deu muito certo.

De que forma ocorreu o retornou ao setor de transportes?

Tomasi – Depois que mobiliei minha casa e comprei carro zero, comprei um caminhão. Comecei a trabalhar com isso porque era o que eu sabia fazer. Tive uma oportunidade muito boa com a Fruki, quando eles lançaram a garrafa Pet. Naquela época, o gerente da Fruki passava no meu restaurante e me ofereceu um frete para Foz do Iguaçu. Era em torno de três cargas por semana e US$ 1,5 mil por viagem, pagos pelo pessoal que recebia a carga. Contratei um motorista e revesávamos. Quando eu fazia a viagem, minha esposa e meu irmão cuidavam do restaurante. Em dois meses compramos o segundo caminhão. Decidimos vender o restaurante, compramos o terceiro veículo e assim a empresa foi crescendo.

Quais foram as dificuldades nessa caminhada?

Tomasi – Nós trabalhamos 7 ou 8 anos aplicando todo o dinheiro na transportadora. Nos primeiros dez anos tivemos algumas dificuldades. Tivemos sorte, administramos bem e sempre conseguimos dar a volta por cima. Lembro quando a Fruki parou de enviar cargas para Foz do Iguaçu. Eu estava em negociação com a estofados Conforto, onde o gerente era meu amigo. Eles transportavam com outra empresa, mas ele me disse para ficar atento porque em algum momento precisariam carregar uma carga para São Paulo. Em um sábado de manhã, me ligou. A transportadora tinha falhado. Fui lá com meus dois caminhões. A entrega era em um shopping de Campinas. Chegamos na segunda-feira de manhã cedo e às 8h chegou o dono do shopping, que receberia a mercadoria. Ele ficou admirado, porque geralmente levavam uma  emana para entregar, e perguntou se eu conseguiria transportar uma vez por semana. Me passou outras fábricas para serem clientes e nos tornamos a única transportadora a fazer serviços para ele. Assim consegui comprar mais caminhões e continuar crescendo.

Como foi o ingresso da sua esposa e filhos no negócio? Já pensa em sucessão?

Tomasi – A Edi era professora na época e eu precisava de uma pessoa para me ajudar com a parte burocrática da empresa. Ela se aposentou pelo Estado e veio trabalhar comigo, no setor financeiro. Até então eu fazia tudo. Fiquei só cuidando dos fretes e dos caminhões. Eu já não viajava desde que comprei meu terceiro caminhão e passei a contratar motoristas. Hoje temos cerca de 150 motoristas e uma equipe de cinco funcionários que só trabalham com contratação, mesmo com a baixa rotatividade que temos. Meus filhos, Diego e Rodrigo, começaram a se preparar para a sucessão com 8, 9 anos. Quando eles estavam de férias do colégio eles queriam fazer entregas e descarregar caminhão. Começaram a trabalhar no escritório e a sucessão de fato, começou com 20, 25 anos. Fizemos muitas reuniões com técnicos especializados na sucessão e hoje nós tomamos as decisões da Tomasi em conjunto, nós quatro. Eu não pretendo parar, estarei sempre ajudando eles. Vou continuar trabalhando até o fim da vida.

Qual foi o diferencial que resultou no crescimento da Tomasi?

Tomasi – A velocidade de entrega e o tamanho dos caminhões. Nosso baú tem altura e a largura máximas, assim como o máximo comprimento. Assim conseguimos trabalhar com muito volume. Nossa carga não é pesada, mas é volumosa. Nós também diversificamos o negócio de acordo com as oportunidades. Um tempo depois de criada a empresa, abrimos uma operação modelo expresso, para coletar em Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul e distribuir na região, ou da nossa região para as outras. Eram cinco ou seis caminhões pequenos e meu cunhado que entendia bastante da modalidade nos ajudou. Continuávamos indo para São Paulo com os caminhões maiores. Em 2014 fizemos uma mudança de planejamento e hoje operamos somente com grandes embarcadores de cargas completas. Em São Paulo nós temos um estacionamento para 200 caminhões. De um lado é para os nossos caminhões, no outro nós cobramos para outras transportadoras. Com a Lei de Descanso do motorista, eles precisam de um lugar seguro para descansar. Aproveitamos nossa necessidade e transformamos em uma oportunidade.

O que é preciso para ser um empresário de sucesso?

Tomasi – Para ser um empresário de sucesso, é preciso muito trabalho e sempre pensar antes de fazer as coisas. Não pode dar o passo maior que a perna. Eu sempre compro os caminhões que posso pagar, ou seja, com frete garantido para fazer. Cuidamos de tudo, até das pequenas coisas, como apagar as luzes para economizar na conta. Nós tivemos uma negociação de óleo diesel, na qual o fornecedor reclamou que eu estava barganhando um centavo no litro. São 500 mil litros por mês, então quanto dá um centavo por litro? Trabalhar muito significa dedicação 24 horas por dia. Sempre fui o primeiro a chegar na empresa e isso continua até hoje.

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